Peça de dramaturgo itapevense é sucesso de público e crítica

Com dramaturgia do multiartista itapevense, Rafael Primot, o espetáculo Kafka e a Boneca Viajante tem sido destaque pela crítica em todo o país.

     Referência obrigatória da literatura mundial do século XX, o escritor Franz Kafka teria vivido, já no fim da vida, uma história curiosa. Ao caminhar por uma praça perto de sua casa, encontrou uma menina que chorava por ter perdido sua boneca. Sensibilizado pelo sofrimento da criança, ele passou a escrever cartas à menina como se fossem enviadas pela boneca, em que descrevia suas incríveis aventuras pelo mundo. A bela e intrigante história já foi contada em livros, contos e peças, mas até hoje não há provas de que realmente tenha acontecido – as cartas jamais foram encontradas, tampouco a dona da boneca. 

     Inspirada no livro homônimo do escritor espanhol Jordi Sierra i Fabra, a adaptação do Kafka e a Boneca Viajante foi uma encomenda do idealizador da peça, Felipe Heráclito Lima a Rafael Primot, o qual por sua vez descreveu como um grande desafio em sua carreira. Assim, ele teve que transformar uma história pública e o livro infantil em uma peça adulta, musical e com mais profundidade.

     “O livro serviu como base. Na verdade, não sobrou muito dele na adaptação teatral, porque a história já era pública. A única coisa que aproveitei do livro foi o nome da boneca, que depois até cogitamos em trocar, mas a literatura, como era muito conhecida, foi importante ser citada pela produção, porque isso também levaria o público ao espetáculo”, descreve Primot.

     Mais que um desafio, Rafael estudou bastante a obra de Kafka para a adaptação, pois a ideia era agregar essas histórias nas cartas para a menina e permitir com que o público pudesse conhecer as obras de Franz Kafka.

     Visto por mais de 17 mil espectadores, em temporadas de sucesso no Rio de Janeiro e São Paulo, a peça também ficou em cartaz, de forma itinerante, em mais quatro capitais: Brasília, Belo Horizonte, São Luís e Porto Alegre.

     Além disso, o espetáculo teve duas indicações ao Prêmio Shell - Melhor Atriz (Alessandra Maestrini) e Figurino (João Pimenta); e sete indicações ao Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro).

     A narrativa não linear reforça o ritmo ágil da montagem, alternando passado, presente e futuro, assim como a realidade vivida pelo Sr. K (Kafka, vivido por André Dias), sua esposa Dora (Lilian Valeska) e a menina Rita (Carol Garcia), atravessada pelo mundo ficcional das cartas, onde Brígida, a boneca interpretada por Alessandra Maestrini, ganha vida. 

     A metalinguagem é outro recurso utilizado. A trilha sonora é um caso à parte e se impõe como elemento dramatúrgico. No repertório, interpretado pelo elenco, estão músicas de artistas como Caetano Veloso, Candeia, Cartola, Chico Buarque, Djavan, Lenine, Raul Seixas e Rita Lee.

     “A beleza do espetáculo, que atrai tanto o público, é porque falamos de temas simples, como as relações humanas, desse escritor com uma criança (que não gostava de criança), de maneira divertida e lúdica. O espectador volta um pouco para a infância. As meninas que se reconhecem na relação com a boneca e os homens que têm essa relação com crianças. Tudo isso, junto com músicas brasileiras conhecidas, conversaram com a dinâmica e a narrativa do espetáculo. É um ótimo passatempo, que traz reflexões e ainda conhecimento. É uma história de esperança e sobre a transformação do amor”, conta Primot.

     De acordo com o dramaturgo, o espetáculo superou as expectativas e apesar do medo do resultado, a peça é sucesso e está em cartaz novamente no Rio de Janeiro até o final de abril, percorrendo depois palcos de todo o Brasil.

     “Eu tive muito a ajuda do diretor João Fonseca na feitura do espetáculo. Acho que ele trouxe um olhar bem legal, conversamos muito sobre o texto e fomos fazendo pequenos ajustes durante o processo de ensaio. Fiquei muito feliz com o resultado final. Tinha medo de criar um espetáculo que ficasse uma salada russa, uma mistura de muitos elementos, que nada conversasse entre si. Tiro o meu chapéu para a direção, porque ele fez uma costura maravilhosa. O espetáculo superou de longe as minhas expectativas, estou muito feliz com a receptividade, tanto da crítica, quanto do público. Convido todos de Itapeva e região, que é a cidade que eu nasci e amo, as quais estiverem pelo Rio de Janeiro ou que encontrarem com esse espetáculo em outras capitais, assistam, pois eu tenho certeza que vão se divertir e se emocionar”, finaliza.

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