Uma prancha de madeira e quatro rodinhas podem mudar vidas

Marginalizado por muitos anos, hoje o skate tem outro status e virou até modalidade olímpica.

     Criado na década de 60 por surfistas californianos, que em dias de maré baixa queriam uma alternativa para a prática do surf, o skate acabou se popularizando e acumulando ao longo dos anos cada vez mais adeptos. 

     Os benefícios do skate são inúmeros e extrapolam o aspecto físico. A atividade é radical e dá origem a um estilo de vida único, que envolve muito mais do que a prática em si, mas também permite que o skatista seja incluído em um grupo. Deste modo, eles conseguem estar sempre com a sua galera, fazendo amizades que levarão para a vida toda. 

     Estar incluso em um grupo social é algo muito necessário na adolescência, e essa demanda o skate cumpre bem.

     O skatista Tiago Perreti, hoje com 35 anos, é um grande exemplo. “Minha vontade de praticar o esporte surgiu do dia para a noite, ainda muito jovem. Eu vi uma galera andando e comecei a andar com eles. Nem skate eu tinha na época. E lá se foram 23 anos vivenciando tudo o que o skate tem de melhor para oferecer”, descreve.

     Apaixonado pelo esporte, Tiago levou a prática aos mais variados campeonatos e em muitos deles sagrou-se campeão na modalidade. “Eu participei de muitos campeonatos até os meus 17 anos. Depois veio a vontade de trabalhar com o skate, não só andando e desde então faço a frente do skate em nossa cidade. Dou a voz para toda a galera se tornar um atleta profissional. Não é fácil, mas não é impossível. Queria levar o skate além das manobras e isso tem dado certo”, confessa.

     Tanto, que Tiago está à frente de um projeto público em Itapeva, intitulado Oficina de Skate, no qual ministra aulas a crianças e jovens de 6 a 14 anos. 

     “Tínhamos o sonho de poder tirar as crianças e jovens das ruas ou das telas do celular. Com a ajuda da minha amiga Márcia Primo e do nosso secretário de Esportes Christian Galvão, conseguimos implantar esse projeto na cidade”, conta. 

     O projeto é totalmente gratuito e para participar basta fazer a inscrição com o professor Tiago ou na Secretaria Municipal de Esportes. As vagas são ilimitadas, porém o projeto conta apenas com 10 capacetes e 10 skates, os quais são emprestados para àqueles que não possuem os equipamentos.

     O sonho do professor em poder passar os seus ensinamentos aos mais jovens tornou-se realidade e nas segundas, quartas e sextas, a partir das 19h, lá está ele ministrando suas aulas há 20 crianças e jovens.

     Em uma época em que existem cada vez mais atrativos tecnológicos, como videogames, smartphones e conteúdos como filmes e séries, é fundamental movimentar-se. E o skate ajuda bastante nessa tarefa! Tanto os pais, como educadores têm sido bastante receptivos a esta atividade na vida dos participantes. 

     “Essa é a melhor parte do nosso projeto, a inclusão de todos. Converso muito com os pais dos alunos e com toda a certeza o skate transformou a vida deles. O intuito do projeto não é apenas formar skatistas e sim formar cidadãos de bem. Eu fico muito feliz por isso estar acontecendo, e é natural, não forçamos ninguém a nada, mas eles entendem o recado e usam para a vida. Até mesmo alguns professores elogiaram a melhora dessas crianças em sala de aula. Isso não tem dinheiro que pague! Faço por amor mesmo”, admite Tiago.

     Entretanto, em Itapeva ainda são poucas as pistas de skate para a prática esportiva. Existem apenas duas, uma na Praça de Eventos e outra menor no Conjunto Habitacional Tancredo Neves. E esta é uma luta que Tiago trava desde quando ainda era um adolescente em cima das quatro rodinhas. Porém, o sonho de conseguir a construção de uma pista descente por parte do poder público ainda não morreu.

     “São muitos anos na correria. A pista que temos foi muito suada e hoje eu conseguir sobreviver através do skate e instruir os pequenos da melhor forma possível, passar a visão para eles do que realmente é o skate, não tem preço. Somos bastante unidos e para mim, a maior satisfação é ver o sorriso na carinha deles. Falta uma pista de skate descente em Itapeva. Esse é o meu maior sonho. As oportunidades estão aí, mas infelizmente a pista que temos não ajuda muito. Temos atletas de ponta em nossa cidade, mas falta incentivo. Para aquele que deseja se profissionalizar, infelizmente chegará uma hora em que terá que ir para a capital, pois o skatista vive de imagem e patrocínio, e é lá que tudo realmente acontece”, desabafa.

     Proscrito por muitos anos, o skate hoje é modalidade das Olimpíadas, cuja primeira edição foi em Tóquio no ano de 2020. Talvez um dos maiores reconhecimentos que a prática poderia ter recebido como esporte. Porém, mesmo com essa importância, o assunto divide opiniões entre atletas profissionais e praticantes.

     “Para mim que sou da geração 2000, o skate era totalmente marginalizado, vivíamos correndo de Polícia e tomando não na cara sempre. A Olimpíadas com certeza abriu os olhos de quem não é do skate e isso para nós foi ótimo, porque agora somos respeitados como atletas. Mas eu particularmente falando, não curto muito o skate nessa competição, porque skate na verdade é muito mais um estilo de vida do que propriamente um esporte, tem que andar para entender esse lado”, finaliza Perreti.

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